Cheguei a casa.
Ainda cansado da noite mal dormida,
Enchi um copo de água e encostei-me à bancada.
Acabaste de apanhar o teu avião…
Estou sozinho na cozinha, de vista baça,
Inerte, sem expressão.
Gostava de ter dormido mais. A despedida
Foi tão rápida que mais pareceu um sonho.
Não terá sido?
Ao dar o último trago de água, levanto o olhar
E deparo-me com o grande relógio de ponteiros.
Como que por magia, moveu-se.
Desperto os sentidos e distingo o seu tic tac,
Constante e pesado, um ritmo virtual que parece tão meu agora.
Tic tac, tic tac
Espero que o ponteiro grande ande mais uma vez
Mas a espera parece interminável.
Desisto e bebo mais um copo de água,
Com o irresistível ah! que as crianças tanto adoram.
Tic tac, tic tac, tic tac
Ah!!
A respiração parece abrandar,
O olhar prende-se hipnotizado.
Tic tac, tic tac, tic tac
Parece definir a marcha da minha angústia crescente
Tic tac, tic tac, tic tac
Mudou!
Por momentos, deixo-me estar.
Como que a recuperar de uma brincadeira de mau gosto.
Nunca pensei que um minuto demorasse tanto!...
Solto um suspiro involuntário
Mecanicamente, ligo a televisão e sento-me.
Ainda assim, por uma vez, no meio da distracção,
Não pude deixar de ouvir o tic tac e sorrir.
O que vale é que este pobre diabo não pára,
E cada vez que anda é um tic tac a menos
Para a próxima vez que nos formos encontrar.
Mas não te preocupes
Não vou ficar a contá-los
PS. Recebi a tua mensagem a dizer que chegaste bem.
***
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