sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Semana 3



Piscava. Eu juro que piscava!
E a sua luz era tão intensa
Que quando se apagava eu sentia
Que o chão me fugia e iniciava uma queda livre!
Isto apesar de estar um escuro cerrado
Que para além de mim - que curiosamente não via -
Só existia aquela luz vermelha intermitente.
Não , não me consigo mexer!
(E no escuro completo faz sentido?)
Apenas me irrita aquela coisa desafiante,
Que me controla e paralisa.
Quero alcança-la, comanda-la, tê-la
Uma possibilidade qualquer que me faça sentir menos perdido.
Mas eu sou a marioneta. Nada consigo fazer, sucumbo.

Piscava, piscava, com vigor!
Mas quanto mais a olho mais me parece um chamamento.
Não tanto pelo seu carácter ofuscante, mas pelo seu poder.
Cerro os dentes e, ai!, quando vou dar o primeiro passo
A luz apaga-se e desequilibro-me no vazio.
Volto onde estava… Onde? Não sei

Piscava, piscava.
E eu diria que a vejo como um desafio pueril.
Dou o primeiro passo destemido,
De frente, com os olhos de tal maneira temerários
Que os imagino duas luzes vermelhas quase de igual intensidade.
Fecho os olhos, concentro-me enquanto a luz não volta a acender,
E depois dou o meu segundo passo.
Terceiro. Quarto. Quinto…
Estou tão próximo que me dá um aperto no peito,
Um aperto benévolo e didáctico, ao lembrar-me da minha prostração
Perante este jogo de crianças.
Agora já sou eu que comando, as regras tornaram-se minhas.
Estou quase. Vou apanha-la… Caio como num desmaio

Sentado num pequeno muro, vejo à minha frente um pequeno lago,
Uma imagem bonita e familiar que me apazigua.
Quando me recosto sobre os braços,
Sinto imensas formigas a subirem pelo meu corpo,
Provocando-me cócegas e impressão.
Livro-me de algumas mas o resto pára no meu peito.
Começam a dizer: “Que bela cabeça que tem.
É enorme!” Diz outra: “E nós que sempre pensamos
Que os pés é que eram grandes
E que a cabeça, lá no alto, era pequenina!”
“É uma perspectiva interessante”, exclamei.

Pisco, pisco.
Envolto nos lençóis, vejo as horas. Adormeci.


PS. Isto tudo só para dizer
Que faltaste ao nosso encontro no mundo dos sonhos

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